quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013
terça-feira, 19 de fevereiro de 2013
Como garantir que o bebé é empreendedor
Uma das coisas que mais assusta os pais é ter um filho que não larga a mama, nem quando acaba o curso da universidade. É vê-los aí, saem de casa dos pais, para ir para manifestações de mão estendida, a pedinchar empregos, em vez de serem empreendedores e criarem o seu próprio negócio ou emigrar. Foi um enorme alívio descobrir o curso BABYBOOM: POTENCIE AS CAPACIDADES DO SEU BEBÉ do prestigiado instituto 4LIFE, considerado a Harvard Business School da puericultura. Podemos confiar no currículo da dinamizadora; é "Doutoranda em Gestão e Empreendedorismo e Educadora de Infância". Não há dúvida que para conjugar um doutoramento em gestão com educação de infância, é preciso ter espírito empreendedor. O curso tem dois níveis: para crianças dos 4 aos 10 meses (nível 1) e outro para crianças dos 11 aos 18 meses (nível 2). O curso promove "autoconfiança, autonomia, segurança, capacidade de enfrentar o risco e
socializar, criatividade, proatividade, motivação, iniciativa..." As reticências não são minhas e sugerem uma lista bastante mais longa de qualidades. Continua com "este
programa procura, em conjunto com os pais, estimular estas
características e o desenvolvimento do bebé com atividades, jogos e
brincadeiras que os ajudarão a ser adultos mais atentos ao mundo que os
rodeia, mais competentes, que não desistam ao primeiro obstáculo e que,
com o seu esforço e recursos, possam alcançar os seus objetivos."
Parece-me o curso ideal para um bebé de sucesso.
A criatividade, por exemplo, tem de ser estimulada nos bebés e nas crianças, pelo intermédio de formações, não basta um bom colégio privado aos três anos. Por exemplo, se os deixamos assim sozinhos a rabiscar coisas, pintam tudo fora das margens, trocam as cores todas... já vi filhos de casais amigos a fazer este tipo de parvoíces desfocadas e descontextualizadas. A proactividade também se deve estimular no bebé, não queremos que fique embasbacado a olhar para as mamas da mãe sem as querer agarrar. Ele tem de querer o que vê e agarrar o que quer. Foi essa a mentalidade que eu tive no primeiro encontro com a mãe dele, por exemplo.
A criatividade, por exemplo, tem de ser estimulada nos bebés e nas crianças, pelo intermédio de formações, não basta um bom colégio privado aos três anos. Por exemplo, se os deixamos assim sozinhos a rabiscar coisas, pintam tudo fora das margens, trocam as cores todas... já vi filhos de casais amigos a fazer este tipo de parvoíces desfocadas e descontextualizadas. A proactividade também se deve estimular no bebé, não queremos que fique embasbacado a olhar para as mamas da mãe sem as querer agarrar. Ele tem de querer o que vê e agarrar o que quer. Foi essa a mentalidade que eu tive no primeiro encontro com a mãe dele, por exemplo.
Quando mostrei isto à Plaft, pensei que iria reagir mal, pois ela é de esquerda e tem uma visão utópica do mundo lá fora. Mas não: riu-se, achou muita graça à ideia e até partilhou no facebook com muitos "lol's" de entusiasmo e likes dos amigos. Ainda bem que tem flexibilidade suficiente pois o casal tem de ser uma equipa de coaching hoje em dia. A participar em manifestações, só como líder de uma jota com aspirações de poder genuínas. Mas não deve ser necessário. Conto que o meu filho, quando sair da universidade, tenha um currículo com formações a começar à 16ª semana de gestação. É o momento a partir do qual desenvolvem a audição e já vale a pena encostar fones a debitar audiobooks motivacionais à barriga da mãe enquanto dormirmos. Já falta pouco!
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
menino ou menina?
Em desespero, ontem, a 5 minutos do fim do jogo com a Académica e com o resultado em branco, virei-me para a barriga da Plaft (que obriguei a que ficasse orientada para a tv para melhor recepção) e disse-lhe "olha lá, se és menino, então faz com que o Benfica marque golo. Se o Benfica não marcar golo é porque és menina ou então és do Sporting"
5 minutos depois, golo! Grande celebração a chocalhar o líquido amniótico! *splosh squish blurb* Cordão umbilical a girar! olé olé!
Equipa do Benfica celebra o facto de ser um menino
Por estes motivos plausíveis e racionais, estou convencido de que é um menino. Mas a Plaft acha que é uma menina e prefere uma menina. Eu não me importo que seja uma menina, só que não sei o que fazer com uma menina. Tenho medo que uma menina não aprecie por aí além destruir coisas e matar pessoas no Battlefield na playstation, que considere irracional ir para dentro de água no inverno com ondas de três metros, que ache completamente idiota fazer 40km de BTT à chuva comigo tendo princípios de hipotermia depois da descida de Montejunto como me aconteceu ontem (foi tão divertido deixar de sentir as pernas e os braços) Estou a ver-me a brincar com bonecas, a ver a Pequena Sereia dez vezes, a ir patinar para Belém... Mas o que me aterroriza completamente é a adolescência da miúda. Em pequena vai gostar muito de mim, mas quando começar a ficar com a doença da adolescência e a achar que o pai dela é pouco fixe e a preferir sair à noite em vez de ficar em casa a brincar ao super mario karts com a Wii que lhe comprei de propósito quando ela fez 17 anos... A minha única salvação é se ela for uma dessas cromas engenheiras geeks. Sim, eu gostava de uma que fosse rato de laboratório e de biblioteca e que andasse metida nos livros e nas experiências, a mordiscar queijo e a rabiscar esboços de fórmulas químicas e cadeias de ADN, e que considerasse os rapazes um desperdício autêntico de tempo e paciência.
Se for menino, a parte chata é o princípio, porque não aguenta bem 40km ou porque tem medo do mar e é preciso atirá-lo lá para dentro e aturar a Plaft aos berros a dizer que é perigoso para um miúdo de cinco anos. Mas depois ele fica mais rijo e torna-se útil, pode apanhar lenha e acender uma fogueira à chuva com um silex em plena serra de montejunto e salvar a vida ao seu velhote estendido no chão com princípios de hipotermia.
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
Como garantir que a nossa prole é do Benfica?
É óbvio que não podemos deixar entregue ao acaso uma coisa tão importante como o nosso filho ser do Benfica.
Pai, porque é que o Jesus inventa sempre contra o FCP?
O problema é complexo. O meu sogro é do Sporting. Enfim,
dizer que “é do Sporting” é um eufemismo para “ayatolah de alvalade”. As três
filhas, incluindo a Plaft, são sócias desde que nasceram e ele leva-as a todos
os jogos - mesmo os desta época - embrulhadas em burkas de cachecóis verde e
branco.
As irmãs mais novas da Plaft, ao conviverem comigo nos jantares de
família, lembram-me um pouco o Edward Norton neonazi do América Proibida, reconvertido pelo convívio
forçado com o negro na lavandaria da prisão. Descobrem que afinal os “lampiões”
são seres humanos e não demónios, como lhes ensinaram toda a vida. Chegam mesmo
a passar-me o pão à mesa e a sorrir-me, já se aproximando fisicamente para me
cumprimentarem, em vez de me acenarem à distância, com um pau esticado na outra
mão. Em todo o caso, para elas, ir ao estádio ver os jogos é sobretudo um ritual
familiar a manter. E um ritual que eu respeito e admiro.
A Plaft achou que seria “giro” dar a novidade ao pai oferecendo-lhe uma camisolinha do Sporting tamanho bebé. Uma
ideia engraçada, não fosse o caso de eu ser do Benfica e de ter ideias de que o
meu filho seja do Benfica também. Eu é que lhe vou mudar as fraldas, dormir mal
e aturar-lhe a adolescência. Vai-me custar uma pipa de massa e preocupações. Vai
monopolizar os seios da minha mulher e vomitar-me em cima a seguir. Este ano
vou perder o meu escritório modernista anos 60 que vai ser decorado com
bichos e cores alegres, um berço do IKEA e um aparador fofinho, coisas a que eu
não tive direito, tendo passado anos naquele escritório depressivo sem que
ninguém se preocupasse com a sua decoração. Não tinha eu direito a um cabide com mochos e esquilos também?
Pai, estive a ver o Sporting a jogar. Aquela defesa comete mais erros infantis que a minha creche...
Então o mínimo que peço é que venha venha comigo comer a porra de
uma sandes de coirato e beber uma mini nos arrabaldes do estádio da Luz, assim
que fizer dois ou três anos. Manifestei as minhas reservas e a Plaft compreendeu. As
irmãs também me compreenderam e solidarizaram-se comigo. Contudo, não podem fazer nada. Fui avisado de
que o mais provável era o meu sogro inscreve-lo(a) como sócio(a) do Sporting assim
que nascesse e que até o podia fazer em segredo, sendo a verdade revelada
apenas na sua maioridade, como uma espécie de twist dramático semelhante à
descoberta de que é adoptado.
Quanto a isso, não me oponho. Até acredito que grande parte dos actuais sócios do Sporting
sejam oriundos deste tipo de filiação filantrópica e só isso pode explicar que
tenha mais de dois mil sócios. Eu não quero que o Sporting desapareça. Se calhar eu próprio sou sócio do Sporting e não
sei. Você, caro leitor, pode ser sócio do Sporting. É melhor ir verificar isso
antes de se candidatar à presidência do Benfica e de outros descobrirem por si. Ia ter muito que explicar.
Pai, a mãe diz que a violência é errada, mas se apanharmos o Pedro Proença no playcenter do Colombo tu seguras nele e eu dou-lhe com a roca.
De facto, eu não ligo muito a essas coisas do futebol, não
sou fundamentalista, o miúdo é livre de escolher, desde que escolha o Benfica.
Como garantir isso? Simples: o truque é fazê-lo acreditar que tem escolha, para
a fidelidade ser maior. Devemos deixar margem para uma ilusão de livre
arbítrio, ao avaliar ele próprio os três grandes e deixá-lo escolher. A escolha do Sporting é
obviamente descartada uma vez mesmo uma criança de um ano de idade identifica erros graves nos padrões defensivos dos bonequinhos de verde e branco que se agitam de forma caótica e desagradável na televisão. É apenas preciso cuidado para que não
escolha o FCP. Como evitar que escolha o FCP?
Simples: o Benfica será igual a sandes de coirato e minis (ou seja o que for
que as crianças bebem quando vão ao futebol, talvez lambretas, não sei, deve depender do peso
delas). As vitórias deixarão o pai bem disposto, generoso, carinhoso e disponível para lhe dar atenção.
A derrota, por outro lado, levará a um choque eléctrico moderado
que pode passar pelo facto do pai amuar e ficar mal disposto, sem vontade de brincar com ele. Esta táctica foi amplamente usada por mim com
a Plaft. Ela, apenas com um ano de terapia comigo, já fica aliviada quando o Benfica ganha e preocupada quando o Benfica perde. É um começo de empatia clubística e por isso,
posso assegurar que funciona!
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013
Como lidar com a grávida
A gravidez, especialmente o primeiro trimestre, atira a mulher para os confins distantes de uma bad trip permanente de hormonas: estrogénio, progesterona, HGC, HPL... Uma vez no Sudoeste vi algo parecido quando uma freak hippie de rastas começou aos berros em frente a um sobreiro. A diferença é que em vez de gritar coisas como 'o pássaro azul chora na árvore que arde!' é mais provável que a grávida grite coisas como 'quero McNuggets!' ou 'tu achas que vou ficar gorda!' quando sugerimos uma salada em vez dos McNuggets. Na pesquisa que fiz não encontrei qualquer referência a nitroglicerina, o que me espantou: era capaz de jurar que a mulher sintetiza este composto em grandes quantidades e que regula o seu estado de espírito por ele. Felizmente, a mãe Natureza sabe o que faz e também deu uma espécie de antídoto: o cansaço extremo. Este cansaço neutraliza a grávida durante alguns períodos do dia. Utilizando uma comparação fácil de entender, fazer um bebé é um esforço equivalente ao Brasil acabar os estádios a tempo do Mundial. Tentem imaginar um enorme estaleiro de construção no útero, com células a correr de um lado para o outro muito atarefadas, todas a reclamar nutrientes muito zangadas: 'esse omega 3 vai aqui para a membrana da célula vascular' e outra 'ai não vai não, esse vai mas é para o nariz' e depois aparece um camião de ácido fólico e é a confusão, com o ADN a gritar que naquele ácido fólico ninguém toca, que é para o sistema nervoso; e depois os outros órgãos todos 'pois, pois, corrupção, é sempre a mesma coisa, o sistema nervoso fica sempre com os melhores nutrientes...' E com isto, a grávida fica sedada boa parte do dia, diminuindo os possíveis danos da expressão física da sua raiva. É como um cão hiperactivo que nem temos de meter a correr num descampado para que fique sossegado à noite. Este cansaço é mais nítido no primeiro trimestre, exactamente aquele em que as hormonas causam mais impacto no estado de espírito. Aquilo que temos de ter presente é que as alterações hormonais são
naturais e necessárias na gravidez, tendo também os seus efeitos
positivos, como por exemplo, o aumento dos seios. Assim de repente não
me lembro de outro efeito positivo... Mas este é suficiente. A grávida ganha peso, o que é normal, mas não é como a
obesidade em que as gorduras são distribuídas de forma uniforme pelo
corpo. Graças às hormonas, o aumento de peso nos seios é milagrosamente
desproporcional. Não devemos menosprezar a sabedoria da Natureza e os
meandros da selecção natural. Ela sabia o que estava a fazer e achou por
bem compensar o homem para que este se mantivesse estoicamente dedicado
à sua parceira e à sua futura prole, dando-lhe algo a que se agarrar nos momentos mais difíceis e um objectivo: caçar e colectar para providenciar nutrientes para os seios.
vou ser pai
Foi no dia 10 de Dezembro de 2012 que soube que ia ser pai, quando a Plaft me deu a notícia. Deixou-se ficar sossegada ao meu lado no sofá enquanto eu assisti à vitória do meu Benfica por 3-1 ao Sporting. Não desconfiei de nada, cheguei a casa, jantámos e vi o jogo... Ela queria que eu estivesse bem disposto, que gozasse o meus últimos momentos, um pouco no espírito da última refeição e cigarro de um condenado. Por vezes olhava de lado para mim e pensava 'coitado... deixa-o ser assim por mais uns minutos' enquanto eu agitava o meu cachecol e gritava olé olé muito contente.
Assim que acabou o jogo, disse-me que tinha uma prenda para mim (é muito irónica). Deu-me um
babete com a bela fachada do Tavares Rico estampada. Inicialmente, não percebi, mas ela estava meio a chorar e a sorrir quando me deu aquilo, vendo a minha confusão e os meus agradecimentos atabalhoados: 'obrigado querida... um babete... eh eh que giro.. com a fachada do tavares e tudo...'
Tínhamos feito uma aposta dois meses antes: se ela engravidasse, eu tinha de
lhe pagar um jantar no Tavares Rico. Ser pai foi uma decisão consciente,
racional e muito ponderada que tinha
tomado uns dois meses antes num momento particular em que essa decisão
me pareceu consciente, racional e muito ponderada, até porque gostava de jantar no Tavares. A certa altura
deixámos de falar nisso porque não é exactamente relaxante associar sexo
a ser pai e já me tinha habituado à ideia de treinar relações de
acordo com os mandamentos do Vaticano.
Até que o olhar fixo dela, com os olhos de bambi lacrimejantes, me deu a dica final. E fiquei... eufórico! Ela mostrou-me os dois testes positivos! Dois!
Engravidei a minha mulher! Sou um macho alfa! A minha missão no planeta está em vias de ser cumprida! Sou o leão da savana! O gorila da selva! A foca do iceberg! O coelho da coelheira! O boi do curral! Nada se compara a essa sensação, para um homem. Não tive a menor angústia ou hesitação nessa felicidade, até porque, como lhe disse, não adianta chorar sobre leite derramado (ela não achou esta metáfora muito feliz).
Engravidei a minha mulher! Sou um macho alfa! A minha missão no planeta está em vias de ser cumprida! Sou o leão da savana! O gorila da selva! A foca do iceberg! O coelho da coelheira! O boi do curral! Nada se compara a essa sensação, para um homem. Não tive a menor angústia ou hesitação nessa felicidade, até porque, como lhe disse, não adianta chorar sobre leite derramado (ela não achou esta metáfora muito feliz).
A sensação de euforia durou alguns minutos, até eu lhe ter dito que o dia estava a ser muito bom: ganhar ao Sporting 3-1, saber que ia ser pai e que só faltava mesmo ganhar um torneio de Magic The Gathering online para o dia ser perfeito. Para minha surpresa, ela não reagiu bem. E então vamos entrar na temática deste blogue. Quero ajudar outros homens a tomar a decisão e a sobreviver-lhe. Isto não é chegar ali e toma lá da cá um filho, como vão ver.
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