sexta-feira, 28 de junho de 2013

contagem final

Pedaço a pedaço, a casa vai-se reconfigurando e nasce um quarto de bebé no meio dela. Paredes pintadas, rodapés, candeeiros, roupeiros, cómodas, berço, prateleiras... Assemelha-se um pouco a uma organização de evento. Momentos antes do evento ninguém acredita que vai estar pronto a tempo e a azáfama é total. Andámos meses a "preparar" o quarto, mas evidentemente com um ritmo irregular porque tudo parecia um pouco irreal, como o Mundial de Futebol no Brasil. Sim, sim, precisamos de construir acessos, arrasar favelas, maquilhar e vestir os pobres e montar o berço, mas faltam três meses, é imenso tempo. Agora não faltam "meses", já começamos a contar semanas. O umbigo da Plaft está praticamente na horizontal na barriga esticada como um tambor. Hoje apanhei-a sentada na grande cadeira de verga suspensa por mola em forma de ovo (uma cena que ela quis) a olhar para o quarto novo, com um sorriso embevecido, a imaginar-se dali por umas semanas. Uma coisa é certa, podem estar 35 graus, mas dou comigo a pensar no Natal mais especial que vou ter desde que cresci e deixei de acreditar em magia.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

bebé mau

... bath?... um produto made in whatever parte da globalização. Desculpa Júlia, juro que não sabíamos que este produto era para este tipo de bebés em específico.

terça-feira, 25 de junho de 2013

incêndio na cozinha ou a origem misteriosa das pegadas cor de rosa



Querida Júlia, tu não sabes, mas ontem peguei fogo à cozinha onde a tua mãe estava a cozinhar o nosso jantar. Desculpa. Eu posso explicar. 

Quis pintar os rodapés do teu quarto de cor de rosa, exactamente a mesma cor (código NCS S 1015-Y90R) daquele rebordo que divide o teu quarto em dois, mas com tinta de esmalte. É uma cor que vem da paleta "Northern Light", são cores boas para funcionar bem quando o espectro luminoso se desloca para o azul, garantindo cores bonitas e calorosas mesmo em dias cinzentos e... pronto, isto se calhar não interessa. Mas dizia eu, quis pintar os rodapés e pintei, com muito cuidado. Foi a tua mãe que colou as fitas e tudo, a parte mais chata, mas não podia pintar porque gosta demasiado do cheiro do solvente da tinta de esmalte e lemos num site que cheirar solventes é mau para o bebé.

Acabei de pintar e tudo parecia correr bem, mas quando fui lavar o rolinho de esponja no lavatório da cozinha cometi um erro, um erro pequenino. Estou habituado a tintas de água, percebes? Saem com muita facilidade do rolo e das mãos, com água, limpam-se com uma esponja e tudo. Mas qual não é o meu espanto quando a minha mão ficou coberta de tinta rosa pegajosa que não saía nem por nada? E que a tinta se começou a agarrar ao lavatório e à torneira... tentei ser discreto e não assustar a tua mãe que vigiava os tachos.

E peguei numa garrafa de solvente industrial que tinha guardado no armário, uma sobra de quando injectei espuma de poliuretano na caixilharia das janelas isolantes e precisei de limpar as minhas mãos que inadvertidamente entraram em contacto com o produto quando as luvas de latex se colaram e rasgaram.

Pronto, admito que não foi muito boa ideia, mas enchi o lavatório com água e despejei solvente lá para dentro. Estava consciente que aquele solvente é mesmo muito forte, que tem muitos avisos cor de laranja na embalagem e que o senhor da drogaria mo vendeu como se fosse uma arma sem número de série, tive de lhe dizer que acetona não servia, que tinha de ser algo muito mais forte e exibir-lhe os fios de espuma de poliuretano colados às minhas mãos. Mas pensei que diluído em água fosse mais ameno e não me causasse as mesmas reacções na pele que da primeira vez que o usei. E achei que com água quente aquilo limpasse melhor, só que o esquentador está mesmo por cima do lavatório da cozinha. Então e não é que aquilo explodiu e irrompeu em chamas? 

Querida Júlia, é que parecia um assador de chouriço gigante, não estás bem a ver... Tenho os antebraços chamuscados, mas só me apercebi disso uma hora depois quando a situação voltou ao normal. O solvente na água continuou a emitir vapores e incendiou-se nas chamas do esquentador. Todo o lavatório parecia um lago de fogo, uma coisa mesmo à Michael Bay! Mas o papá teve muitos reflexos, que é para veres. Abri o armário e tirei de lá uma toalha de mesa e atirei-a para dentro do lavatório para apagar as chamas. Não reparei que a toalha era inflamável também, admito. Nem que a garrafa de solvente estava no balcão ao lado do lavatório e que um pequeno rasto de solvente (mas uma gotas só, juro) foi o suficiente para as chamas chegarem à garrafa, tipo rastilho, para uma segunda explosão ainda mais espectacular que a primeira. Tenho pena de não ter tido a presença de espírito para tirar uma fotografia ou filmar e mostrar-te, mas pronto, paciência.

A tua mãe por esta altura (isto foram segundos) já tinha fugido contigo na barriga para a sala, depois de eu lhe ter dito para desligar o gás do fogão. Gritei-lhe para me trazer um cobertor. E ela trouxe-me um cobertor, mas foi logo trazer aquele cobertor que eu até gosto bastante, o laranja, mas que ela detesta e que está sempre a dizer para eu deitar fora. Mas não discuti com ela, só para veres como o papá coloca a tua vida acima de considerações estéticas ou decorativas. Atirei o cobertor para cima do lavatório e do balcão e fiz tap tap tap com ele por todo lado, porque as chamas estavam mesmo teimosas. O fogo apagou-se, naturalmente e voltei-me para a tua mãe e disse-lhe "vês? está tudo bem, sei o que estou a fazer" porque ela tem um bocado tendência de sofrer dos nervos e exagera. Abrimos as janelas todas, e o exaustor, desligamos gás e interruptores de luz e estive lá uma meia hora com a ventoinha portátil de gravidez da mãe, a ver se dissipava o solvente.

Nisto, não sei como, espalharam-se salpicos do rolo de tinta cor de rosa por toda a cozinha, especialmente no chão que é de pedra preta porosa e que custa mesmo a limpar. A tua mãe diz que fui eu que atirei o rolo ao ar num gesto talvez indicativo de estar assustado, mas não foi, mantive sempre a calma. Também verifiquei a existência de pegadas cor de rosa pelo chão, do lavatório para a janela que abri, sem me lembrar de o ter feito. Suponho que tenha sido eu, sabes? A tua mãe obrigou-me a limpar o chão e tive de o esfregar pelo menos meia hora, com aquela parte verde da esponja.

Foi depois disso, já na casa de banho, um pouco tonto do cheiro a solvente, que dei conta da tinta nos antebraços chamuscados e em madeixas de cabelo pegajosas e coladas, também chamuscadas. Estive outra meia hora a esfregar-me, o que foi bastante incómodo porque os meus braços estavam com um escaldão do passeio de BTT de 45 quilómetros que fiz este fim de semana e o solvente já me tinha queimado parcialmente a pele. A tua mãe bem me avisou: mete protector solar. Mas eu não segui os conselhos da tua mãe e vê só o que sucedeu? Tudo sujo, atraso no jantar, confusões, explosões etc.

Depois da situação regularizada, jantámos na sala. Ainda tentei fazer uma piada sobre a Sónia Brazão e que isto poderia ser bom para a carreira da tua mãe, no sentido de a projectar mediaticamente, mas ela não achou graça. E não tem graça nenhuma, realmente.

Isto explica as ténues pegadas rosa no chão preto da cozinha que provavelmente ainda lá estarão quando conseguires ler este texto. A maior parte saiu (expliquei à tua mãe hoje) e só se vê mesmo com a luz do dia e com um bocado de má vontade. À noite não se vê, mas o chão é meio poroso e não dá mesmo para tirar aquilo.

Bem, só queria que soubesses que está tudo sobre controlo e que estamos perfeitamente preparados para te ter quando nasceres, porque é com a prática e as experiências como esta que percebemos aquilo de que as crianças são capazes se não forem vigiadas. Ainda sugeri à mamã despejar um pouco de solvente no balde da esfregona quando a empregada vier a casa e fugirmos durante umas horas, deixando o número dos bombeiros num post it, em cima do balcão, assim como quem não quer a coisa, mas a tua mãe não concorda e diz que vai meter os produtos industriais inflamáveis longe do alcance do pai e que a próxima compra é uma manta anti-fogos para a cozinha. Preferia usar o tapete da casa de banho, aquele de que não gosto nada e que a tua mãe escolheu, mas pelos vistos há uma "manta anti-fogos" especificamente para estes propósitos.