quarta-feira, 24 de julho de 2013

pais experientes vs pais teóricos (post menos a brincar vá)

Bem, com dois geeks cá em casa, toneladas de livros, artigos e um curso de preparação no centro pré e pós parto, o que não falta é informação teórica sobre como cuidar de um bebé aqui pelo lar. Já sabemos a teoria toda sobre cuidar de um bebé.

E já sei que esta afirmação provavelmente provocou num pai ou mãe experiente, uma reacção de riso de "não fazes ideia". É que sofremos, eu e a Plaft, essa reacção constantemente, se alguma vez nos atrevemos a dar uma opinião na presença de pais experientes, mesmo pais que foram pais recentemente e que estão a discutir um problema. É normal "gozarem" com um pai ou uma mãe que leia um mero livro sobre bebés ou que repita algo que aprendeu com enfermeiras especializadas em cuidados maternos, mesmo que seja contextualizado numa conversa. De facto, quando alguém questiona uma prática que pais aplicam aos próprios filhos, está a tocar num ponto muito, muito sensível, mesmo que queira simplesmente ajudar e partilhar algo que leu.

Dito isto, é preciso entender que práticas herdadas ou culturais não são necessariamente as melhores e que a teoria, em muitas áreas do comportamento humano, antecedeu a prática, a cultura ou aquilo que é intuitivo. Foram estudos que determinaram que o uso de cinto de segurança aumentava a probabilidade de sobreviver a um acidente ou que o tabaco causava cancro. Mesmo assim, é muito normal as pessoas não usarem cinto quando vão no banco de trás ou fumarem, assim como era normal quando eu era criança, ir a dormir deitado no banco de trás, sem cinto, com ambos os meus pais a fumar de janelas abertas. Também penso que me deitavam de barriga para baixo, quando se sabe hoje em dia que a Síndrome de Morte Súbita é melhor prevenida se o bebé dormir de barriga para cima. Daqui a 30 anos, haverá certamente mais informação e seremos nós, os pais de agora, os desactualizados, a não ser que façamos um check up à informação antes de dar conselhos aos nossos próprios filhos ou a pais recentes.

Em tudo o que diz respeito a bebés e crianças, as zonas cinzentas são enormes, dependem da cultura, do conhecimento, da educação que se teve. A ciência também deixa muitas perguntas sem resposta. Há práticas recomendadas pelos médicos que variam de zona geográfica para zona geográfica. A Internet é um mundo. Mesmo os profissionais de saúde, com anos de experiência, têm opiniões contraditórias. Curiosamente, são muitas vezes os jovens profissionais de saúde, os médicos e enfermeiros que acabaram de estudar os assuntos e que são os menos experientes, que acabam por ser os mais abertos e mais informados, havendo até conflitos de práticas em maternidades. Não foram nem uma, nem duas as enfermeiras especialistas que nos chamaram a atenção para o facto de hoje em dia, muitos pais terem até mais informação que os próprios profissionais de saúde com determinadas formações e culturas e que os pais devem ser assertivos quando estão convictos de uma prática.

Aquilo que me irrita um pouco na atitude de ignorar informação disponível e repetir práticas erradas (de acordo com a última informação) no cuidado de bebés ou em pedagogia, é exactamente o mesmo que me irrita quando alguém faz uma dieta que se sabe ser errada ou treina para corrida com métodos errados, de acordo com a informação disponível e perfeitamente acessível na internet, em livros ou em cursos simples e baratos. Todos nós temos reacções quando algo nos parece contra-intuitivo, devido ao facto de, ao aceitarmos esse facto, nos sentirmos atingidos pessoalmente, muito mais no caso de uma coisa que nós próprios fazemos e ao qual nos dedicamos. No caso dos nossos filhos isto é muito exacerbado e começa logo na gravidez...

 É evidente que a teoria não faz um bom pai ou mãe e que da teoria à prática vai um mundo enorme. Mas dizer isso é redundante, não é? Um piloto da força aérea tem aulas teóricas em que aprende mais ou menos como funciona a máquina que vai pilotar, antes de se meter no cockpit de um F16 sozinho. No caso de um bebé, a comparação mais adequada seja um tupolev russo dos anos 70, das linhas aéreas somalis, num dia de tempestade de areia e trovoada, tendo a bordo a selecção de Israel e uma dúzia de muçulmanos de mochilas às costas com ar suspeito. Mas o meu ponto é que faz parte se tentar ser bom pai... tentar ser bom pai. Isto é, demonstrar interesse e curiosidade, no mínimo. E perante problemas evidentes, ser flexível e questionar as próprias abordagens e investigar um bocadinho.
 

terça-feira, 23 de julho de 2013

espero que o bebé deles tenha as orelhas do avô


Pois é Júlia, tudo a falar do bebé da Kate e do William e vai ser assim sempre que ele fizer anos uns dias antes de ti. Príncipe para aqui, príncipe para acolá, que uma foto do bebé vale não sei quantos milhões... Pelo menos, a Kate é americana e nada aponta para o agravamento dos problemas genéticos relativos ao royal inbreeding que atormentam a aristocracia britânica. Por exemplo, as orelhas do prince Charles advêm de, em 1845, a duquesa de Yorkshire Camelot ter feito amor com o sobrinho cocker spaniel. A história da Camila remonta ao final do século dezoito e envolve uma premiadíssima égua de corrida, conhecida por ser particularmente pouco atraente, embora o primo direito da égua, o Duque de Westminster Cambrige, numa noite mais ébria, não fosse da mesma opinião. Tu serás sempre a nossa princesa, querida Júlia. Já sei, já sei... quando souberes ler isto, vais interrogar-te "mas onde está o meu castelo? a minha carruagem? os meus súbditos?" O que queremos dizer, eu e a mãe, quando te chamamos de princesa, é que és uma princesa no sentido metafórico.
Ou seja, não és princesa nenhuma, mas tens muito amor, que é uma coisa que no teu caso até vale dinheiro para estudar, comida e protecção. Vais perceber que o mundo funciona assim. A mãe quando diz ao pai "és o melhor cozinheiro do mundo" (que nunca diz, agora que penso nisso) não está exactamente a dizer que eu sou o melhor cozinheiro do mundo, mas sim a dar-me um elogio para me incentivar a cozinhar mais vezes em vez de ser ela. Quando o pai diz que ela é a mulher mais bonita do mundo... é porque é mesmo. Safa, ia-me espalhando agora. Já percebi pela comunicação que temos tido até agora, particularmente quando estás com os soluços, que tens uma personalidade forte.

Ah, a propósito, li em muitos sítios que tu já ouves bem dentro da barriga e que crias memórias, nomeadamente, com músicas. E que se voltares a ouvir a música já depois de nasceres e mesmo em idades mais crescidas, elas te soarão familiares e relaxante. Eu sei que devíamos ter sido disciplinados e posto a tocar uma coisa diferente todos os dias... por isso lamento que a música a que estejas mais exposta seja a do genérico dos Sopranos que estamos a rever de uma ponta à outra, todas as seasons :\

Sentes alguma coisa?


You woke up this morning 
Got yourself a gun, 
Mama always said
 you'd be The Chosen One lá laá láaaa 

sexta-feira, 19 de julho de 2013

sujeitar as crianças a experiências científicas é bom

Uma das coisas fantásticas de se ser pai é poder realizar experiências como esta nos próprios filhos:

Ainda não discuti o assunto das experiências com a Plaft porque já sei que vai discordar e apresentar objecções. Não me espanta. A ciência, desde de que existe, encontrou sempre resistências nos poderes instituídos que procuram, pela perpetuação da ignorância, manipular as mentes das massas. Há também, hoje em dia, uma maior consciencialização do sofrimento infligido em experiências com cobaias, ratinhos e bebés. Contudo, basta de hipocrisias. Todos filhos são cobaias dos pais O Pai Natal,  que mais não é do que uma experiência controlada em que se procura condicionar o comportamento da criança para que seja bom de acordo com a normal moral vigente e que facilite a nossa própria tarefa educativa, recorrendo ao estímulo psicológico positivo na forma de presentes na árvore (ou pelo estímulo reciprocamente negativo da ausência de presentes na árvore)? Os exemplos de experiências são intermináveis, nem me ponham a falar do sistema educativo ou da filiação clubística, por exemplo. A não ser que deixemos a criança viver em liberdade num bosque para que seja adoptada por um casal de ursos ou uma matilha de lobos (como era suposto e desejável - não contei à Plaft mas os meus passeios de BTT pela tapada de Mafra mais não são do que scouting de um bom day care) estaremos sempre a fazer experiências com ela. A diferença, comigo, é que as experiências serão relativamente inofensivas e controladas. Pelo menos, eu saberei o que estou a fazer e o condicionamento terá sempre em vista dotar a minha filha de qualidades que lhe permitam sobreviver melhor e ser mais feliz.

Dois exemplos:

Experiência nº1 -Objectivo: Não fazer birras de não querer andar
Já  todos vimos a situação: bebé chora, birra monumental, finca o pé, num local público e recusa-se a andar. Os pais, envergonhados, depois de desistirem de o tentar arrastar pelo braço e atrair ainda mais a atenção e olhares reprovadores sobre si, fazem normalmente a experiência de lhe dizer 'olha que ficas aí... olha a mãe está a ir embora... o pai está a ir embora, ficas aí, adeus...' O resultado nem sempre é eficaz e o problema é que a inconsistência da ameaça é muito difícil de obter, isto é, os pais não podem cumprir a ameaça por medo de perder efectivamente o filho e voltam para trás se ele se recusa a andar, prejudicando futuras tentativas de usar o mesmo método. A experiência consiste em pedir a alguém que tenha um aspecto mais ou menos de confiança (exemplo, outro pai que esteja a ver a cena e tenha empatia connosco) que simule o rapto da criança, colocando-a na bagageira de um carro (apenas durante breves momentos +-30 segundos) assim que desaparecemos do campo de visão. Depois os pais deverão abrir a bagageira do carro e dizer algo como "desta vez encontramos-te, mas para a próxima podes ficar aí dentro para sempre". É de esperar que ao fim de algumas simulações, a criança evite fazer birras e se mantenha bem perto dos pais sempre que estes se afastem.


Experiência nº2 - Ser do Benfica
Inspirei-me num caso real que me contaram e que considero muito bem pensado. Passa por, sempre que brincarmos juntos a algo minimamente competitivo, sermos alternadamente do Benfica e do Sporting. Quando ela for do Benfica e eu do Sporting, ela ganha sempre, pois farei de propósito para perder. Vou também queixar-me e chorar e, sobretudo, acusá-la sempre de batota. Quando for a vez dela ser do Sporting e eu do Benfica, serei impiedoso e vou-lhe impor copiosas derrotas, nem que tenha de treinar músicas do Justin Bieber no Just Dance na Wii às escondidas, mas terei bom ganhar e serei magnânimo.